Expectativas para hoje
O anúncio, hoje, da primeira elevação dos juros pelo Banco Central Europeu em quase três anos vem acompanhado do pedido de resgate financeiro feito por Portugal. Isto valida o discurso do presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, de que o problema da dívida em alguns países da Zona do Euro não afetaria uma decisão de aperto monetário, caso fosse necessário. O fato é que a elevação dos juros na região vai aumentar ainda mais o já pesado custo do financiamento desses países em dificuldades. É difícil a equação que o BCE deve resolver, já que o combate à inflação dificulta a recuperação para as economias endividadas, podendo comprometer o crescimento econômico do continente.
Este cenário já conduz o euro a uma realização frente ao dólar, hoje, bem como esfria os ânimos nos mercados acionários, que, na Europa, operam entre estabilidade e baixa. Esta recuperação do dólar favorece também alguma devolução nos preços do petróleo. Ainda assim, o barril do tipo Brent permanece acima de US$ 120,00. Neste ponto, aliás, o cenário cria divergência entre a Petrobrás e o Governo Federal, já que, para a estatal, se o preço do petróleo se estabilizar nesses patamares, deverá haver correção dos preços domésticos, atingindo os derivados do petróleo, como a gasolina. Já para o Ministério da Fazenda, não deve haver elevação no preço dos combustíveis, conforme declarou ontem o Ministro Mantega.
E falando em alta de preços, saiu hoje o IPCA de março, que ficou acima das expectativas de mercado. A alta nos preços medida pelo índice foi de 0,79%, enquanto as projeções giravam entre 0,45% e 0,78%, com a mediana em 0,7%, conforme pesquisa da Agência Estado. O Governo, ainda segundo declarações do Ministro da Fazenda, apostava em algo como 0,45% para o índice oficial de inflação.
Conforme a nota do IBGE, “Os alimentos, que haviam iniciado o ano com alta de 1,16% em janeiro e reduzido para 0,23% em fevereiro, voltaram a subir de forma significativa, aumentando 0,75% em março”. A aceleração, no entanto, atingiu 5 dos nove grupos pesquisados. Além dos alimentos, também habitação, vestuário, transporte e saúde registraram alta mais forte do que no mês passado. O grupo transportes, por si só, respondeu por 0,29% destes 0,79%.
Já a FGV divulgou o IGP-DI, também de Março, com variação de +0,61%, abaixo, portanto, da alta de fevereiro, que foi de 0,96%. Dentre os componentes do índice, o IPA-DI passou de 1,23% em fevereiro para 0,6% no mês passado, o IPC-DI acelerou de 0,49% para 0,71% e o INCC-DI de 0,28% para 0,43%.
Já no campo cambial, o anúncio feito ontem pelo governo de que o IOF de 6% incidirá sobre operações de captação no exterior em prazos até dois anos, um ano a mais do que a regra anterior, deve surtir efeito contrário hoje. Isto porque o mercado se preparava para medidas mais fortes, o que levou o dólar a fechar em alta ontem mesmo. A medida, certamente, é bastante modesta e não deve surtir maiores efeitos contra a tendência de fortalecimento do real, já que o cenário é ainda de elevada liquidez internacional, associada à grande atratividade dos juros brasileiros e também ao bom momento da economia doméstica. Além disso, a percepção de que os juros nos EUA devem permanecer baixos ainda por algum tempo, conforme ficou evidenciado na ata da última reunião do FOMC, tende a contribuir com o fluxo cambial positivo no Brasil. O fluxo, aliás, foi recorde neste primeiro trimestre, atingindo US$ 35,5 bilhões, conforme informou ontem o BC. Vale lembrar que, além das razões já citadas, também vem contribuindo em grande parte para este ingresso de dólares as captações realizadas pelas empresas brasileiras, já que os custos no exterior ainda são bastante baixos. Fica claro, portanto, que por um longo período devermos conviver com um câmbio apreciado, o que é bom pelo lado da inflação, mas não tanto para a nossa balança comercial.
BOLSA, CÂMBIO E JUROS
Para os mercados acionários a tarefa hoje é avaliar os impactos da alta dos juros na Europa enquanto Portugal apela para o socorro da União Européia.
No câmbio, a recuperação do dólar frente ao euro e o ajuste no mercado doméstico às expectativas criadas antes do anúncio das medidas do governo devem levar o Real a retomar a tendência de apreciação.
O forte dado do IPCA, divulgado hoje, deve levar os investidores a reponderar sobre a intensidade do ajuste na Selic, este mês As perspectivas sugerem alta dos DI nos vencimentos mais próximos.
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